A região sul do estado, em especial, o Vale do Café, é cercada por belíssimos casarões, oriundos do imponente período do Brasil Império. Ao longo dos anos, muitas dessas propriedades ganharam o viés turístico, abertas para visitação e hospedagem. E neste roteiro de um turismo histórico, que representa um passado de ouro do interior do estado – ouro negro, como era conhecido o café - é possível contemplar nas fazendas históricas, a arquitetura e influências europeias, objetos originais do século XIX, carruagens e até mesmo assistir a pequenos saraus, recriando cenas, com diálogos e vestimentas da época.
No entanto, mesmo com tantos elementos para provocar uma viagem ao passado, faltava ainda um ingrediente mágico durante essas visitas, algo tanto visto nas novelas de época e que ganhou cenas clássicas nas intermináveis disputas de terra entre as famílias Berdinazzi e os Mezengas, em ‘O Rei do Gado’.
Para muitos turistas, faltava a oportunidade de percorrer uma genuína plantação de pé de café e sentir nas mãos o peso do grão e da história do produto que compõe a mesa de cada brasileiro. E com essa vertente, que um projeto iniciado em 2017, pelo empresário Paulo Roberto, proprietário da Fazenda Florença - localizada em Conservatória - resolveu apostar na volta do plantio do pé de café para ofertar uma experiência nova ao turista. A proposta deu tão certo que o café especial produzido pela fazenda ganhou o gosto do turista e dos jurados, rendendo prêmios por sua qualidade.
“O Café sempre foi minha paixão. Sou um estudioso da área e um grande apreciador. Nas visitas, o turista nos cobrava por isso. – Estamos em uma fazenda de café e onde está o café? – Isso me incomodada muito. Mas há cinco anos, o Sebrae nos procurou e ofereceu uma consulta para um ciclo de palestras para uma possível reintrodução do plantio. Gostamos muito da ideia e passamos a planejar, já que o trabalho envolvia sustentabilidade, plantio de arvores de mata nativa, fato que me agradou por ser muito ligado ao meio ambiente. Fizemos o plantio do café tipo arábica em 2017. E como ele respondeu muito bem ao plantio, após 80 anos sem produzir café, no ano seguinte eu ampliei”, explica Paulo Roberto. Um ano depois, a ideia que nasceu para compor o ciclo histórico oferecido pela Fazenda, construída em 1852, acabou ganhando uma nova estrutura; cafeteria em meio ao cafezal e o aprimoramento da produção do café tipo especial. Diferentemente do café tradicional, o especial possui uma metodologia própria para colheita, sendo utilizado apenas os grãos maduros.
“Para produzir o café especial é preciso cumprir uma série de requisitos. O principal deles é que precisa ser colhido apenas quando estiver maduro. Diferentemente da banana, por exemplo, que amadurece mesmo se estiver verde, se o café for colhido um pouco antes do tempo, ele paralisa sua atividade metabólica e não amadurece mais. Por isso, para ter um café especial, mais adocicado do que o tradicional, é preciso esse cuidado”, explica o empresário que ainda complementa sobre as diferenças na colheita entre os dois tipos de café.
“Em uma colheita de café grande, por exemplo, as máquinas recolhem centenas de grãos em um pé, sem distinguir os grãos verdes e grãos maduros. Não tem como ter esse reconhecimento. Não podemos dizer que esse processo é errado, mas não é a melhor maneira de buscar a qualidade de café, o café verde vem junto. Ele não transmite o sabor, os aromas, o teor de açúcar natural de cada grão quando está maduro”, complementa. Em pouco tempo, o trabalho agradou e logo rompeu fronteiras, ganhando destaque no cenário estadual e nacional, com a produção do café especial. Ainda em 2019, o empresário aceitou o desafio proposto para participar de um concurso dos melhores cafés produzidos no estado do Rio, promovido pela Associação de Cafeicultores do Estado do Rio de Janeiro. O resultado logo transformou o café produzido no Hotel Fazenda Florença, em uma referência no estado.
“Confesso que fomos surpreendidos. Entramos para saber como seria a aceitação e nossa posição. Em um concurso sério, com testes cego, laboratorial físico e sensorial, realizados por uma instituição analisadora, e ganhamos na modalidade Café Natural, como o melhor café produzido no estado em 2019. No mesmo ano, participamos no concurso nacional da Associação Brasileira da Indústria de Café e ficamos em 11º em todo território nacional. Foi uma posição de grande destaque, levando em consideração que no Brasil temos mais de 330 mil produtores. No ano seguinte, conquistamos a 8ª colocação na mesma competição e voltamos a ganhar um prêmio estadual de melhor café no Concurso Flora Premiada, com uma avaliação técnica internacional, promovida pela empresa Três Corações”, destacou orgulhoso Paulo Roberto, que está a frente do Hotel Fazenda Florença há 22 anos.
Um pouco sobre a história da Fazenda Florença
A Fazenda Florença foi fundada pelo clã dos Teixeira Leite, de origem portuguesa. Vindos de Minas Gerais, eles foram atraídos para o Vale do Paraíba pela riqueza do café no século XIX. Os Barões de Itambé e de Vassouras foram considerados os membros de maior renome na família, que se afazendou por locais como Conservatória, Rio das Flores, Barra Mansa e Valença. A atual sede do casarão foi erguida em 1852 e nela destaca-se um imponente alpendre, de influência italiana, encimado por um frontão que é sustentado por colunas de madeira trabalhada. A construção foi feita em base de pedra e piso de peroba do campo e possui detalhes no estilo neoclássico. No interior do casarão, os hóspedes fazem uma viagem pelo tempo em forma de objetos originais do século XIX, como bengalas, cartolas, porcelanas, entre outros. A sede da fazenda está aberta à visitação em horário programado.
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