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Domingo, 08 de Setembro de 2024

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A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e AS VIAS PROPRIOCEPTIVAS - Por Dr. VALÉRIO BRAGA ( NEUROCIRURGIÃO / ESCRITOR )

Coluna Perseverança traz explicações sobre os mistérios e segredos sobre como se dá a integência emocional

A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL e AS VIAS PROPRIOCEPTIVAS - Por Dr. VALÉRIO BRAGA ( NEUROCIRURGIÃO / ESCRITOR )
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VOLTA REDONDA, RJ Coluna Perseverança Por Valério Marcelino Braga – Neurocirurgião

Para entendermos melhor a formação de nosso temperamento, habilidades e nossas emoções, desenvolvidos durante nosso crescimento, desde a infância e adolescência até a vida adulta, vamos examinar alguns dos milhares de conexões neurais responsáveis pela nossa herança genética, as quais nos dotam de uma série de referenciais que determinam nosso temperamento. Segundo Daniel Goleman, formado em psicologia em Harvard e escritor, os circuitos cerebrais são extraordinariamente maleáveis, mostrando que o temperamento não é destino. As experiências emocionais que vivemos na infância, seja em casa ou na escola, modelam os circuitos emocionais, tornando-nos mais ou menos aptos nos fundamentos da inteligência emocional. Isso significa que a infância e a adolescência são importantes fontes capazes de determinar os hábitos emocionais básicos que irão governar nossas vidas. Enquanto a inteligência emocional informa nosso potencial para aprendermos os fundamentos do autodomínio e afins, nossa competência emocional mostra o quanto desse potencial dominamos, de forma tal que ele se traduza em capacidades profissionais.

A consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência de cada indivíduo. Dessa forma, vamos fazer as correlações neurofisiológicas que o sistema límbico pode se impor, no que se refere ao confronto entre a razão e a emoção, pois essas áreas cerebrais, compostas por milhares de circuitos neuronais, possuem duas regiões principais que comandam nossas reações frente às adversidades e conhecidas como: amígdala e hipocampo. O sistema límbico originou-se a partir da emergência dos mamíferos mais antigos. Foi, porém, através do sistema nervoso autônomo que esse sistema passou a comandar certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os mamíferos, interferindo positiva ou negativamente no funcionamento visceral e na regulamentação metabólica de todo o organismo. O termo “límbico” corresponde a um adjetivo a que se dá o valor de relativo ou pertencente ao limbo, ou seja, remete ao conceito de margem. O Sistema Límbico compreende todas as estruturas cerebrais que estejam relacionadas principalmente aos comportamentos emocionais, sexuais, à aprendizagem, à memória, à motivação, mas também a algumas respostas homeostáticas. Resumindo, a sua principal função é a integração de informações sensitivo-sensoriais com o estado psíquico interno, onde é atribuído um conteúdo afetivo a esses estímulos. A informação é registrada e relacionada com as memórias preexistentes, o que leva à produção de uma resposta emocional adequada, consciente e/ou vegetativa. Tais formações podem dividir-se em componentes corticais (parte externa do cérebro) e componentes subcorticais (parte mais interna do cérebro), estando associado a estas regiões cerebrais, um conjunto de estruturas que contribuem para a execução das funções deste sistema.

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O fracasso e a vitória não são determinados por algum tipo de loteria genética, mas sim pela nossa memória armazenada, que aciona nosso sistema límbico, permitindo que possamos ter as melhores decisões e, consequentemente, ficar mais perto do acerto do que do erro. Outro ponto a ser destacado remete-nos às vias proprioceptivas e sua devida importância durante a infância e a adolescência. Propriocepção — ou cinestesia — é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem a utilização da visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas que, com o passar do tempo, tornam-se automáticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno, na porção intracraniana. Em resumo, estas vias neuronais são responsáveis por enviar ao cérebro as informações posturais, posicionais, e as encaminhar ao sistema nervoso central (SNC) através dos receptores, que podem ser encontrados em músculos, tendões, ligamentos, articulações ou pele. Portanto, cinestesia é a consciência dos movimentos produzidos pelos nosso corpo. Para falar sobre propriocepção, é necessário mencionar, antes, os recepto- res sensoriais, afinal, são eles que transmitem ao SNC a posição articular e o nível de tensão muscular, assim como todos os nossos movimentos do corpo, sejam eles grosseiros ou delicados.

Durante a nossa infância, vamos montando um armazenamento de dados neurossensoriais que ficam guardados em locais específicos de nosso SNC. Quando é necessário fazer, ou refazer, um novo movimento, o cérebro vasculha este local de armazenamento e busca esta informação, para que ocorra a execução da ação, facultando a maior perfeição possível ao movimento. O fenômeno denominado plasticidade cerebral — ou plasticidade neural — permite que os neurônios se regenerem tanto anatomicamente quanto funcionalmente, formando novas conexões sinápticas. A neuroplasticidade é a habilidade do cérebro de se recuperar e se reestruturar, atuando diretamente nestes grupos neuronais, ligados às informações proprioceptivas, armazenadas no córtex cerebral, além de fazer parte no nosso aprendizado. Hoje sabemos que existem duas formas de estimular a produção de novas sinapses entre os neurônios. A primeira ativação neuronal ocorre com exercício físicos, que através de estudos de neurociência, foi verificado a produção de novos neurônios e novas sinapses, nos indivíduos que praticam diariamente algum esporte. A segunda forma, seria através de estudos, leitura e aprendizado de novos conhecimentos, onde haveria fortalecimento das conexões sinápticas já existentes. No passado, achávamos que estas funções, seriam uma capacidade exclusiva de crianças e adolescentes, mas hoje sabemos que elas continuam na fase adulta, em menores proporções. O estudo do cérebro sempre se caracterizou pela sua enorme complexidade; mesmo assim, houve grandes pesquisadores que nos ajudaram a entendê-lo mais claramente. Um deles foi o neurologista alemão Korbinian Brodmann, que dividiu o córtex cerebral em partes que se convencionou chamar de “áreas de Brodmann”. Estas regiões, que, em suma, formam o córtex motor, agrupam um conjunto de áreas responsáveis pelo processamento das informações relacionadas à movimentação muscular, formando um mapa que nos ajuda a compreender as estruturas e as funções do cérebro. Como simples exemplo, podemos observar uma criança que, se começar a aprender a tocar violão por volta de seis anos, terá muito mais chance de dominar este instrumento e sua musicalidade. Nesta fase, as vias neuronais proprioceptivas levarão as informações das mãos diretamente ao córtex cerebral, em um momento no qual o cérebro ainda está em fase de organização.

Quando um músico tocar o seu instrumento, ele buscará as informações já armazenadas em seu banco de dados, usando as notas para traduzir a sequência desejável. Mas, se ele decide cantar, terá que acionar as vias responsáveis pela linguagem, mais especificamente na área de broca, que correspondem às áreas 44 e parte da 45 Brodmann, dificultando um pouco mais a performance artística. Dentre os métodos atuais para estudar as várias áreas e funções cerebrais que comandam o corpo, tem-se a Ressonância Magnética Funcional. O termo “imagem funcional” refere-se a métodos para obtenção de imagens que permitem identificar regiões do cérebro associadas a certas solicitações motoras, sensitivas e cognitivas. A imagem funcional pode ser usada não somente para o estudo da atividade cerebral de pessoas saudáveis como também para examinar mudanças de algumas funções cerebrais em pacientes com “massas” ou "lesões intracranianas". Esta técnica também é importante no diagnóstico de pacientes e no planejamento de intervenções neurocirúrgicas uma vez que, após detecção das áreas funcionais, o cirurgião busca o trajeto mais seguro para o acesso cirúrgico, evitando danificar as áreas mais nobres do cérebro. A musicoterapia, utilizada em alguns centros especializados em reabilitação cognitiva, mostra que muitos pacientes que estavam sem comunicação com o meio externo durante vários anos, devido a quadro demencial grave, podem ser estimulados pela música. Isso ocorre porque as áreas cerebrais que codificam as notas musicais não sofrem o mesmo comprometimento dos neurônios afetados pela doença degenerativa. A interpretação musical, segundo Pitágoras, baseia-se em conhecimentos matemáticos fracionários e que são armazenados em nosso cérebro em áreas específicas, que podem ser ativadas por quem tenha feito o desenvolvimento destas conexões neuronais ao longo da vida. Como bem disse Ludwig Van Beethoven: “A música é o vínculo que une a vida do espírito a vida dos sentidos”. Por Valério Marcelino Braga – Neurocirurgião

   

           

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